É bom ser entrevistado. Podia dizer “Ah não, a entrevista rouba a alma da arte, e eu sou um artista que não gosta de ser larapiado, por isso reservo o que fiz para mim e para os meus, sejam eles familiares, amigos ou animais de estimação.” Mas não. Gosto mesmo de ser entrevistado.
Acho graça quando as pessoas dizem que os vídeo-jogos alienam as crianças e os adolescentes porque são meios de entretenimento solitários. Mas… já viram algo mais solitário do que ler? Enquanto estou com um vídeo-jogo posso jogar ao mesmo tempo com alguém ou simplesmente com alguém a ver-me jogar e a comentarmos o que está a acontecer.
Já viram alguém ler ao mesmo tempo? Duas pessoas muito juntinhas a conseguirem ler ao mesmo ritmo? Ou, já viram alguém ler enquanto outro olha para ele e comentam o que está a ser lido? Eu ainda não.
Por isso, ler é das actividades mais solitárias que existe. O que não é forçosamente mau. E sobretudo, quando quero fecho o livro e estou com outras pessoas. O mesmo já não me acontece quando escrevo. Quando escrevo isolo-me do mundo. Se eu estiver a teclar um livro e houver um ataque atómico eu não saberei de nada. Só notarei que há um problema quando me olhar ao espelho e vir que a minha cara está deformada.
Por isso ter a oportunidade de falar sobre um livro que escrevi isoladamente é bom. Mais ou menos. Nem sempre é bom. É apenas bom quando à nossa frente tenho um entrevistador que realmente leu o livro. Que quando faz a pergunta “sobre o que fala este livro?” é apenas uma pergunta para as pessoas lá em casa que não saibam o tema e não para ele próprio estar a par.
Nem todos os entrevistadores se dão ao trabalho de ler um livro e fazerem perguntas realmente interessantes. É melhor não vos contar as coisas que já me perguntaram porque não quero que morram com um ataque de riso. E estou a falar literalmente. A língua agitava-se tanto que cometeria suicídio na garganta.
Ser entrevistado pelo João Paulo Sacadura, do programa Livraria Ideal, é como entrar nos Pasteis de Belém.
Ele leu os livros, entrevistas minhas dadas anteriormente, e sobretudo pensou no que vai perguntar.
Por isso, sempre que sou entrevistado por ele, e sempre que ele diz “Bom e por hoje é tudo” eu penso “Ele passou-se?! Já vai acabar o programa?! Ainda agora começou!!!". Mas a verdade é que passaram mesmo 25 minutos.
Gosto mesmo muito de ser entrevistado por ele. E isso nota-se nesta entrevista que foi para o ar na TVI 24 no dia 5 de Maio.
Sem comentários:
Enviar um comentário