quinta-feira, 13 de novembro de 2008

PORQUE É QUE OS ELEVADORES NOS TRANSFORMAM EM POTENCIAIS CARJACKERS?

PORQUE É QUE OS ELEVADORES NOS TRANSFORMAM EM POTENCIAIS CARJACKERS?

Hooligans?! Carjackers?! Assaltantes de Bancos?! Comparados com cada um de nós sempre que chamamos um elevador poderiam ser considerados irmãos siameses do Papa e estarem nomeados para o Prémio Nobel da Paz.

Tenho a mais profunda convicção que sempre que nos aproximamos de um elevador público há uma reacção química dentro de nós que faz soltar o Hulk que está com açaime, desejoso de entrar em acção. 

Carregamos no botão e ficamos à espera. Nesta altura pensamos como é bonito o som que vem dos passarinhos da rua, ou como poderíamos contribuir para a paz no Médio Oriente. 

Os segundos começam a passar e as nossas hormonas a fermentar “Então?! Nunca mais vem?! Será que alguém deixou a porta aberta noutro andar?! Estará alguém a colocar dez carrinhos do supermercado lá dentro”. Subitamente, algo entre a velocidade do som e da luz, entramos em modo Armadinejad  e carregamos 1 bilião de vezes de seguida a chamar de novo o elevador. 

Não sei muito bem o que estamos à espera que aconteça. Hipóteses: 1) Que o elevador sinta que é muito desejado no nosso andar e venha de imediato mesmo que isso signifique separar a mãe que está a tentar colocar o carrinho do seu bebé lá dentro?; 2) Que o elevador sinta que se não vem imediatamente pode ser chicoteado com azeite quente fora do prazo de validade?; 3) Que as pessoas que estão a atrasar a chegada ao nosso andar apanhem choques eléctricos cada vez que carregamos e desistam de trazer o resto das compras?

Ou seja: porque é que carregamos ensadecidamente no botão de elevador sempre que ele não chega? 

Finalmente, quando dez anos depois ele chega, esquecemo-nos de olhar se vai subir ou descer. Ou seja, se vai na mesma direcção que nós precisamos. Nessa altura a temperatura corporal já subiu até aos 89 graus e o cérebro já fechou para não ser derretido. 

Por isso entramos, sem olhar na direcção da seta. Entramos simplesmente na inconsciente esperança que ele vá na direcção que precisamos. Só que apesar do calor, o nosso cérebro faz um último esforço e diz aos olhos: “Pssst… olhem lá para os botões. Verifiquem”. Ao que os olhos respondem “Tchiii, os botões indicam que o elevador vai para a zona oposta à nossa, vou avisar o amo” (pelo menos é assim que os meus olhos me tratam. Respeitinho é muito bonito). “Pssst. Amo, vamos para o andar errado”. Só que nós não queremos admitir, e entramos em negação. Sentimos que se sairmos vamos ser comentados. Mal sairmos todas as pessoas vão desatar num riso crónico que poderá causar abalos no Oceano Atlântico. 

Eu aproveito quando a porta está quase a fechar-se para sair. É arriscado, mas se conseguir, sem ficar sem um braço ou perna, as pessoas vão ficar tão impressionadas com os meus dotes atléticos que até se esquecerão que eu tinha lá entrado por engano. O gozo dará lugar à admiração. E sei que irei ser o tema de conversa em muitas salas de jantar nos tempos seguintes. Poderei mesmo vir a ser uma lenda que irá ser contada daqui a mil anos: “Há muitos anos, houve um homem, um santo homem, que tinha seis metros de altura, que conseguia passar pelas frestas dos elevadores. Ele fazia isso porque cada vez que tal acontecia caía dinheiro do céu e que ele dava aos pobres. Consta, mesmo, que ele era amigo de Jesus Cristo”.

Quando finalmente chega o elevador que nos irá levar ao sítio que desejamos, eu tento olhar para o espelho. Quem me garante que não tenha um bocado de espinafre nos dentes? Eu lavo-os sempre, mas pode ter ficado escondido e agora ter caminhado até se tornar visível. Por isso convém sempre olhar para o espelho. Afinal de contas para que serve um espelho num elevador? Por acaso é apenas para ser admirado? É um quadro de Miró?  

Só que se o elevador está cheio todas as pessoas querem olhar para o espelho, mas ninguém tem coragem. Nessa altura eu fico sempre muito religioso e começo a rezar o terço para que todas as pessoas saiam antes de mim. Só preciso de um andar para verificar que está tudo ok. 

Mas há sempre alguém que vai sair depois de nós. E é aqui que convém não termos nenhuma arma por perto… lápis dos olhos e batons contam como armas. Porque nessa altura, com a irritação do elevador nunca mais ter chegado e com a impossibilidade de não podermos olhar para o espelho…como? Perguntam se não podemos olhar de lado? Estão a brincar comigo, certo?!  Imaginem que olhamos e aparentemente está tudo bem. Não se esqueçam que se olharmos de lado apenas vemos metade da cara. Achamos que está tudo bem, vamos para uma reunião, rimos muito porque estamos seguros e depois quando saímos de lá é que vemos que temos um nabo suspenso nos dentes de cima. Nunca, mas nunca confiem em olhar de lado num elevador. 

É nestas altura que eu compreendo muito bem os talibã. Se eu pudesse seria um talibã dos elevadores. Em que expulsaria todas as pessoas, dando chibatadas, com arame farpado. 

Por vezes conversar com alguém ajuda a aliviar toda a pressão que o elevador já nos causou. Mas é impossível estabelecer-se uma conversa com uma pessoa num elevador. Porque a conversa pode durar um andar, o que é muito mau se estivermos a gostar: “Olá como vai o meu nome é Fran… “ e a conversa acaba. Se a pessoa é muito chata poderá ser a última a sair e temos de aguentar com conversas sobe as dores que tem no baço. 

Por isso nunca se deve iniciar uma conversa num elevador, o que ainda contribui mais para a tensão criada. Convém olharmos sempre para baixo. Porque se olharmos directamente para alguém, pode achar que a conhecemos de algum lado mete conversa, e sem percebermos se nos conhecemos ou não, a pessoa, ou nós, saí e durante uns 12 meses ficamos a pensar quem seria ela. 

É por causa dos elevadores que ao fim do dia chegamos a casa irritadíssimos e não percebemos porquê. Encarem este artigo como Serviço Público. Hoje fui a RTP em versão braços e pernas. 

É por estas e por outras que há assaltos a bancos e a carros. Os elevadores causam demasiado stress. Por favor, metam nos elevadores máquinas onde se oferecem Valiums à borla. Obrigado.

 

Francisco Salgueiro

www.franciscosalgueiro.blogspot.com

 

 

3 comentários:

Joana Godinho disse...

Hum, na RTP? Quem é que foi visitar? Ha? Haverá uma nova entrevista broadcasting, ou nem por isso. Começo a ficar cusca. Mas, mais do que isso, gostaria de saber qual é a versão do Terço que você sabe rezar.

Imagine lá, quem é que me ligou hoje a dizer: em seis horas estou em Minneapolis.

E nem foi preciso rezar o Terço. Essa é que é essa. Estou cheia de medo;)


Beijo para o escritor mais lindo do planeta,
Joana

e mais agnóstico também

Anónimo disse...

Olá Franciso, acho que te esqueces-te de mencionar outras situações que podem acontecer nos elevadores...eheheh, mas o que eu gostava mesmo de saber, é se te costumas tratar muitas vezes por Fran??
bjsinho, Maria

Cenas disse...

E quando o maldito elevador abre dos dois lados e eu teimo em estar sempre de costas para o lado que abre quando quero sair???é ver-me a carregar no botao vezes sem conta e a já a insultar o animal :/